O poder do estômago: saboreando e digerindo 'fazeressaberes' culinários na criação de currículos com as diversas redes educativas
O poder do estômago
https://drive.google.com/drive/u/1/folders/1X0OzEtsB8hHiFz3KlzOJud2oMwCY3rpz
O poder do estômago: saboreando e digerindo 'fazeressaberes' culinários na criação de currículos com as diversas redes educativas
Noale Toja1*
Cozinhar é uma arte!
A arte de cozinhar e seduzir!
Este trabalho pretende buscar nas memórias, os afetos despertados pelo filme brasileiro, Estômago de Marcos Jorge (2007), estes, que me atravessam e me fazem pensar acerca da comida e do poder. Trata-se do poder que reside na comida e no ato de criar na cozinha, e como estas provocações podem criar currículos com as diferentes redes educativas que formamos e nas quais nos formam.
Assisti a este filme2 e faço uso dele como personagem conceitual3 na minha pesquisa de doutorado4.
Estômago conta a história de Raimundo Nonato, um migrante nordestino, que vem para "cidade grande" em busca de emprego, na esperança da dita "vida melhor". Depois de dias de viagem, e de passar um dia inteiro andando pela cidade, Raimundo entra numa birosca no fim da noite e pede as duas últimas coxinhas muchibentas que estão no canto da vitrine, sem nenhuma esperança, (as coxinhas), de serem devoradas.
Assisti a este filme2 e faço uso dele como personagem conceitual3 na minha pesquisa de doutorado4.
Estômago conta a história de Raimundo Nonato, um migrante nordestino, que vem para "cidade grande" em busca de emprego, na esperança da dita "vida melhor". Depois de dias de viagem, e de passar um dia inteiro andando pela cidade, Raimundo entra numa birosca no fim da noite e pede as duas últimas coxinhas muchibentas que estão no canto da vitrine, sem nenhuma esperança, (as coxinhas), de serem devoradas.
Raimundo sem dinheiro para pagar as coxinhas que consumiu, para não sofrer violência maior, cede as ordens do dono do bar para limpar toda imundície da cozinha. Ele acredita que terá um canto para passar a noite, mas sua noite é consumida pela limpeza do estabelecimento, que em muito agrada ao dono do bar.
Nonato, para garantir dormida e algum dinheiro, aceita a proposta de aprender a fazer coxinhas para o bar, que surpreendentemente torna-se a melhor coxinha das redondezas, aumentando a freguesia. Nonato com sua astúcia de aprendiz culinário, garante um canto, prestígio e o afeto de Íria, um encantamento no seu coração. Íria, uma mulher, proprietária de um bom f ilet mignon5, frequentadora assídua do bar, nos momentos em que consegue sair do "ponto". Num chamego, ela declara ao novato cozinheiro, que gosta mesmo é de um macarrão a putanesca.
Nos 'fazeressaberes'6 culinários, Nonato consegue um emprego e a confiança de Giovanni, dono de um restaurante italiano, referência na localidade. Com Giovanni, Nonato aprende coisas importantes nas compras com as escolhas dos ingredientes; na organização da cozinha na relação de arrumação dos 'espaçostempos' das coisas e dos preparos dos pratos; os usos dos vinhos, tanto na sua disposição, quanto suas propriedades e ocasiões nas quais, cada um deve ser degustado.
Nonato, para garantir dormida e algum dinheiro, aceita a proposta de aprender a fazer coxinhas para o bar, que surpreendentemente torna-se a melhor coxinha das redondezas, aumentando a freguesia. Nonato com sua astúcia de aprendiz culinário, garante um canto, prestígio e o afeto de Íria, um encantamento no seu coração. Íria, uma mulher, proprietária de um bom f ilet mignon5, frequentadora assídua do bar, nos momentos em que consegue sair do "ponto". Num chamego, ela declara ao novato cozinheiro, que gosta mesmo é de um macarrão a putanesca.
Nos 'fazeressaberes'6 culinários, Nonato consegue um emprego e a confiança de Giovanni, dono de um restaurante italiano, referência na localidade. Com Giovanni, Nonato aprende coisas importantes nas compras com as escolhas dos ingredientes; na organização da cozinha na relação de arrumação dos 'espaçostempos' das coisas e dos preparos dos pratos; os usos dos vinhos, tanto na sua disposição, quanto suas propriedades e ocasiões nas quais, cada um deve ser degustado.
São aprendizados de um bricoler (GIARD; CERTEAU: 2013), de um 'praticantepensante', que lança mão de uma ética e uma estética na ideia do exercício de um suposto poder, pelo uso de táticas e pela autoridade circunscrita num espaço controlado pelos seus'fazeressaberes', t endo a cozinha numa linha de fronteira, o domínio de seus artefatos políticos, como uma receita desconhecida por aqueles que irão degustar, o poder a partir da sedução do paladar, do cheiro, do inusitado, do ordinário, do exótico e do imprevisível.
1*Doutoranda, integrante do GRPesq “Currículos, redes educativas, imagens e sons”, na linha de pesquisa “Cotidianos, Redes Educativas e Processos Culturais”, que pesquisa atualmente,‘Processos curriculares e movimentos migratórios: os modos como questões sociais se transformam em questões curriculares nas escolas’, com apoio CNPq, Capes, Faperj, UERJ (2017-2022), coordenado por Nilda Alves. Bolsista Faperj.2Assistir filmes faz parte do nosso processo de pesquisa que inclui um movimento a que chamamos de Cineconversas, nomeado por Rosa Helena Mendonça, uma das componentes do grupo. O movimento que realizamos tem as ‘conversas’ em torno de temáticas introduzidas pelo processo de ‘verouvirsentirpensar’ os filmes como lócus central das pesquisas. Assim, não se trata de conhecer os filmes em si e discuti-los em sua historicidade, construção técnica, como obra artística de um criador etc, mas de tê-los como iniciador de pensamentos que permitam as ‘conversas’.
3Este conceito é utilizado por Alves, porém a autoria do mesmo é de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), de quem a autora se apropria para entender que, para além de “fontes”, as imagens, narrativas e sons permanecem muito tempo conosco para que se produzam ideias e conceitos.
4Movimentos migratórios e seus ‘fazeressaberes’ culinários nos/dos/com os cotidianos como questão curricular.
5Importante assistir ao filme para entender alguns trocadilhos.6Nas pesquisas com os cotidianos fomos percebendo que as dicotomias necessárias à criação das ciências na Modernidade, representavam limites ao que precisávamos criar. Com isto passamos a escrever assim os termos dessas dicotomias: com os termos juntos, em itálico, entre aspas simples, colocando no plural os termos e muitas vezes invertendo-os tal como estamos habituados, a pronunciá-los, pelas marcas que os conhecimentos hegemônicos deixam em nós.
As palavras grafadas, juntas são para nós, um modo de perceber essas ideias que circundam os processos educativos nos cotidianos, como algo fluido, híbrido, não dicotomizada. Portanto as palavras juntas e grifadas fazem parte do entendimento aos seus significados como uma relação de confluência - aprenderensinar, práticateoria, praticantespensantes, espaçostempos, conhecimentossignificações, docentesdiscentes, entre outros.
3Este conceito é utilizado por Alves, porém a autoria do mesmo é de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), de quem a autora se apropria para entender que, para além de “fontes”, as imagens, narrativas e sons permanecem muito tempo conosco para que se produzam ideias e conceitos.
4Movimentos migratórios e seus ‘fazeressaberes’ culinários nos/dos/com os cotidianos como questão curricular.
5Importante assistir ao filme para entender alguns trocadilhos.6Nas pesquisas com os cotidianos fomos percebendo que as dicotomias necessárias à criação das ciências na Modernidade, representavam limites ao que precisávamos criar. Com isto passamos a escrever assim os termos dessas dicotomias: com os termos juntos, em itálico, entre aspas simples, colocando no plural os termos e muitas vezes invertendo-os tal como estamos habituados, a pronunciá-los, pelas marcas que os conhecimentos hegemônicos deixam em nós.
As palavras grafadas, juntas são para nós, um modo de perceber essas ideias que circundam os processos educativos nos cotidianos, como algo fluido, híbrido, não dicotomizada. Portanto as palavras juntas e grifadas fazem parte do entendimento aos seus significados como uma relação de confluência - aprenderensinar, práticateoria, praticantespensantes, espaçostempos, conhecimentossignificações, docentesdiscentes, entre outros.
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